domingo, 19 de junho de 2011

ASPECTOS ÉTICOS DA CLONAGEM


      Clonagem é a produção de indivíduos geneticamente iguais. É um processo de reprodução assexuada que resulta na obtenção de cópias geneticamente idênticas de um mesmo ser vivo – microorganismo, vegetal ou animal.
      A preocupação com a abordagem das questões éticas dos processos de clonagem não é recente. Desde a década de 1970 vários autores tem discutido diferentes questionamentos a respeito dos aspectos éticos envolvidos. Paul Ramsey, em 1970, propôs a importante discussão sobre a questão da possibilidade da clonagem substituir a reprodução pela duplicação. Esta possibilidade reduziria a diversidade entre os indivíduos, com o objetivo de selecionar características específicas de indivíduos já existentes. Isto teria como conseqüência a perda da individualidade, com a possível despersonalização destas pessoas.
Em 1972 a Revista da Associação Médica Norte-Americana (JAMA) publicou um editorial sobre clonagem colocando a questão: "será que é isto mesmo que nós queremos ?"
Em 1974 o filósofo Hans Jonas, em seu texto Engenharia biológica - uma previsão, afirmava que a clonagem era intolerável pois condenava o futuro do novo indivíduo ao passado do indivíduo original. Ele criticava a proposta de clonagem por retirar a possibilidade de novo indivíduo descobrir-se como pessoa, pois ele já viria com uma expectativa pré-determinada. Ele não teria o direito à "ignorância de  saber quem ele é". O poeta Edward E. Cummings, em 1958, já havia dito que:
"Não ser ninguém além de mim mesmo - em um mundo que está fazendo o possível, dia e noite, para nos transformar em qualquer outra pessoa - significa travar a mais dura batalha que qualquer ser humano é capaz de travar e jamais parar de lutar."
         Em 1977, o Prof.Bernhard Haering, da Academia Alfonsiana de Roma/Itália, já discutia a outra questão, a relativa a possível seleção dos indivíduos gerados. Uma vez que exista possibilidade do processo de clonagem humana, caso forem constatadas anomalias, os indivíduos "defeituosos" poderiam ser eliminados. Pois, novos indivíduos poderiam ser "produzidos", até atingir-se o objetivo desejado, caracterizando uma forma de eugenia.
Dentro desta mesma perspectiva, mais recentemente, em função dos experimentos de Hall e colaboradores, em 1993, DeBlois, Norris e O'Rourke manifestaram sua preocupação pelo fato de que poderiam ser gerados clones, por divisão de embriões em fases iniciais, apenas com a finalidade de diagnosticar possíveis problemas genéticos, antes da implantação. Desta forma, alguns embriões seriam utilizados como meio para diagnosticar a segurança ou não de implantar os demais. Isto caracterizaria uma situação eticamente inadequada de uso dos embriões, pois alguns seriam destruídos com a finalidade diagnóstica. Em todas estas situações o questionamento ético básico é o de utilizar um ser humano como meio e não como fim. Esta proposição sobre a dignidade humana baseia-se na ética de Kant.

Fonte: Almanaque Abril- Brasil 2002 

Por: Rayana Venâncio

Um comentário:

  1. Ainda bem que se tem esta visão. Tecnologia é importante, mas sempre deve-se discutir tanto os benefícios quanto os malefícios.E em se tratando de " clonagem humana", a integralidade do ser humano deve ser estudada antes de quaisquer decisões,e valorizada acima de tudo.
    Por: Lílian das Graças

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