segunda-feira, 6 de junho de 2011

O NOVO DILEMA NO COMBATE AO CÂNCER

As drogas que atacam os tumores podem comprometer a saúde do coração. Como evitar que os doentes morram de infarto?

UM EXEMPLO DO DILEMA...
José Alencar e a presidenta Dilma no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, na quinta-feira. Em novembro, ele infartou por causa do tratamento do câncer.
O câncer é traiçoeiro e exige vigilância. Não há, no horizonte, sinal de que um dia surja a cura universal. Ainda assim, o avanço do conhecimento sobre a biologia dos tumores e a criação de drogas poderosas deslocaram várias formas de câncer para o rol das doenças crônicas. Em vez de matar em poucos meses, a maioria dos tumores pode ser vencida ou controlada por longos períodos. Desde, é claro, que o doente tenha acesso a diagnóstico precoce e a tratamento de qualidade. Em muitos casos, no entanto, a sobrevivência cobra um alto preço. As drogas contra o câncer podem provocar danos cardiológicos tão graves quanto a própria doença. Um novo dilema se coloca diante dos médicos: vencer o câncer ou proteger o coração? A maioria dos pacientes se cura do câncer sem dano cardíaco, mas a parcela que tem problemas é grande.
Segundo Kalil, cardiologistas e oncologistas vivem batendo cabeça porque não falam a mesma língua. “Todo dia minha equipe é chamada na oncologia do Sírio-Libanês porque algum paciente infartou ou teve algum comprometimento cardíaco por causa do tratamento do câncer.” Um deles foi o ex-vice-presidente José Alencar. Em novembro, ele se internou para mais um ciclo de quimioterapia contra o sarcoma na região abdominal. Como vários esquemas de quimioterapia falharam, o oncologista Paulo Hoff decidiu adotar a droga oral Glivec. Do ponto de vista oncológico, o tratamento foi razoavelmente bem-sucedido: o tamanho dos tumores diminuiu. Do ponto de vista cardiológico, não. Alencar infartou.

“A importância do consenso é que agora até os oncologistas que trabalham numa cidade sem recursos terão uma fonte confiável para saber de que forma devem acompanhar o coração do paciente, que exames pedir e durante quanto tempo”, diz Hoff. O que os médicos pretendem com o consenso é que todo paciente seja avaliado por um cardiologista antes, durante e depois do tratamento. E também tenha acesso aos exames que, ao longo do tratamento quimioterápico, podem apontar se a droga está prejudicando o coração.
Apesar das boas intenções, é difícil acreditar que o consenso seja aplicável a todas as unidades do SUS. “O papel das entidades médicas é divulgar o que a ciência sabe e despertar cada médico para que brigue para ter o necessário no SUS”, diz Jadelson Andrade, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O básico do básico é fazer uma avaliação cardiológica do paciente antes do início do tratamento. “Algumas drogas são tão tóxicas que se o doente já tiver algum problema cardíaco é melhor nem usá-las”, diz Enaldo Melo de Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
A maioria dos pacientes se cura do câncer sem sofrer nenhum dano no coração, mas a parcela que tem problemas é grande. “Num país como o Brasil, que tem 500 mil casos de câncer por ano, muita gente pode estar sob risco”, diz Hoff, que também é diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).


Postado por Hanna Paula.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/O+NOVO+DILEMA+NO+COMBATE+AO+CANCER.html

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